
Separei um pedacinho para vocês:
"a civilização burguesa expulsou de si a morte; não se visitam moribundos,
a pessoa que vai morrer é apartada, os defuntos já não são contemplaods.O leito de morte se transformava em um trono de onde o moribundo ditava seus últimos
desejos ante os familiares e vizinhos que entravam pelas portas escancaradas
para assistir ao ato solene.Era natural dormir numa cama onde dormiram os avós, onde morreram rodeados pelos seus. Era natural visitar um defunto, acompanhá-lo
ao ouvir os sinos plangerem. E guardar o crucifixo onde imprimiu o último beijo.
A morte vem sendo progressivamente expulsa da percepção dos vivos.
Os agonizantes, diz Benjamin, são jogados pelos herdeiros em sanatórios e
hospitais. Os burgueses desinfetam as paredes da eternidade.No entanto, todo o vivido, toda a sabedoria do agonizante pode perpassar por seus lábios. Ele pode examinar sua vida inteira, filtrar o seu significado mais profundo e querer transmiti-lo em palavras entrecortadas cujo sentido todos se esforçam para
adivinhar e interpretar. A mão que ergue a última bênção sobre os vivos e, à
medida que o olhar se apaga, mais cresce a autoridade do que é transmitido."
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade, Lembranças de velhos.
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